Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A família loggionista!!!

A informação que tinhamos obtido do tenor uruguaio que conhecemos no dia anterior foi "os ingressos do loggione são vendidos só no dia da récita mas para conseguir comprar tem que ir bem cedo para a fila que fica na lateral do teatro". Munidos de uma esperança enorme movida por essa informação acordamos antes do sol nascer, acho que eu não tinha mudado nem de posição na cama ainda... O café da manhã foi totalmente automático e quando saimos em direção a metropolitana ainda era noite fechada, e claro aquele frio pra acompanhar.... mas a idéia de assistir a Prima do Rigoletto no Scala com o Nucci dava forças infinitas...

Ao subirmos as escadarias da estação Duomo  (que fofamente tinha uma das escadas como teclas de piano que tocavam mesmo e afinadas) demos de cara com o próprio Duomo sendo banhado pelos primeiros raios de sol, lindííííssssssimo!!!!!! Mas nosso objetivo era chegar o mais cedo possível ao Scala e sem nem tirar uma fotinho (essa ai do lado foi tirada mais tarde) atravessamos a Galeria Vittorio Emmanuele como se fosse apenas uma passagem comum e o avistamos, o Teatro Alla Scala di Milano, templo sagrado da ópera, onde estreiaram tantas óperas que estudamos, mas nada de pausa para foto precisavamos achar a fila, o dia já tinha nascido e não tinhamos chegado tão ccedo quanto gostaríamos, afinal nem conhecíamos o esquema e faríamos de tudo pra poder assistir essa ópera.
Na lateral esquerda do teatro vimos um grupinho de pessoas e foms lá chegando de mansinho, perguntamos se era para a fila do loggione e o grupo estranho formado de dois velhinhos, uma japonesa (que não falava nenhuma outra lingua além do japonês) e um jovem de boina, depois de uma bela medida em nós disse que SIM, aquilo era a fila pro loggione (era real!!!! O tal loggione existiva mesmo!! Nós tínhamos mesmo chance de ver a ópera!!),.
Foram chegando outros velhinhos que sempre nos mediam com aquele olhar de "e esses quem são? nunca vi por aqui? E são estrangeiros? E chegaram mais cedo do que eu?", depois de uns 15 minutos chegou o Gianni (um senhor com um caderno na mão) e começou a anotar o sobrenome de cada um no seu caderno e depois ele disse que devíamos ir tomar um café se esquentar um pouco e voltar pelas 10hs... nenhum de nós se mexeu e vendo isso o Gianni voltou e disse de novo que podíamos ir e complementou com uma frase inacreditável "vocês são do 5 ao 8 na fila COM CERTEZA terão ingressos", nós quatro começamos a chorar, foi involuntário, era de verdade, nós íamos na estréia do Rigoletto no Scala....
O máximo que conseguimos nos distanciar do lugar sagrado da fila do loggione foi atravessar a rua e ir no "Bar dalla Scala" tomar um café (pela janela ainda tínhamos uma visão da bilheteria... rs). Eu não tomei nada, tava enjoada de tanta emoção, mas depois que chegou o deles eu fiquei até com vontade de pedir nem que fosse só pra ficar olhando de tão mimoso que era (além é claro de que os outros frequentadores do bar eram visivelmente funcionários do teatro, conversando sobre vozes, cantores..... nosso mundo....).
Voltamos para a fila quase 50 minutos antes da hora combinada de puro pânico de perder os ingressos, não acreditavamos totalmente ainda. Em poucos minutos já ficamos amigos dos outros loggionistas afinal nosso assunto e comum era imenso (óperas, gravações, cantores...), alguns velhinhos assistiram a Callas ao vivo, o primeiro da fila era amigo íntimo do Di Steffano.... cada vez parecia mais irreal, era um mundo tão nosso.... tudo que sempre foi tão distante ali tão pertinho.....
As 10hs o Gianni fez a primeira chamada pra conferir se os interessados da primeira lista continuavam ali, e nos dispensou para passear outra vez e voltar ao meio-dia.
Fomos então ao Museu do Scala, outro sonho e muita muita muita choradeira..... ver os quadros que são as capas de tantas partituras, reconhecer os personagens dos quadros sem ter que ler as legendas.... os adereços usados nas primeiras produções das montagens... orgulho total ao ver o busto do Carlos Gomes junto com o de Verdi, Bellini, Rossini... etc... Os quadros da Callas e da Tebaldi são impressionantes!!!! E claro a sala... aquela tão conhecida cortina de tantos videos.... pudemos entrar em um dos camarotes e ver a sala, e de repente toda aquela minha agitação interna parou, um silêncio interno nunca achado nas minhas mil aulas de meditação tomou conta de mim, perdi a noção da hora, não tenho idéia de quanto tempo fiquei ali, mas com certeza eu poderia ficar ali uma eternidade.
Depois de toda a emoção da visita no Museu (quase já sem lencinho na bolsa) , com muito menos euros na carteira e um milhão de itens comprados na lojinha do Scala (como por exemplo minha agenda 2010, chiquérrima, com a programação do teatro toda marcada já) voltamos para a segunda chamada do Gianni ao meio-dia, notamos que algumas pessoas que vão sempre chegaram a ficar irritadas de estarem atrás da gente.... rs... dos estranhos no ninho, já tão enturmados com os outros.... rs...
Depois desta chamada o Gianni (desta vez acompanhado de seu lindo labrador, para assegurar a ordem... rs - e foi nesse momento que percebemos que ele não era um funcionário do teatro e sim um voluntário que faz isso por amor e para evitar confusão, e claro, se colocou na lista na hora que ele chegou, ele era o 10º) começou a organizar a fila, já tava uma muvuca, empurra pra cá e empurra pra lá até todos ficarem na ordem da lista pré-oficial, essa fila foi a mais difícil, estávamos mortos de fome e não tínhamos mais  glicose pra aquecer o corpo (além de já estarmos a 5 hs de pé no frio), para amenizar meu celular tocou e era a minha tia Adriana e a minha avó Gilda (que se chama assim por causa exatamente da Gilda personagem do Rigoletto) ligando via skype, a vovó adorou saber que eu estava na fila do Scala para ver Rigoletto, fofa!!!
As bilheteiras oficiais chegaram e lá pelas 13:30hs elas começaram a fazer a lista oficial, próxima chamada agora as 17:30hs!

Saímos desimbestados de fome e paramos para comer no primeiro lugar que achamos, pagamos caro e comemos pouco....
Tendo 4 hs de tempo fomos finalmente passear por Milão, a maior parte dos pontos turísticos são ali em volta do Scala mesmo. Fomos na Galleria agora com calma, podendo babar no piso e no teto deslumbrante, fomos na apaixonante loja da Ricordi tb na galeria, fomos visitar o Duomo (enorme, escura, com vitrais ultra coloridos) e depois andamos até o Castello Sforzesco, tudo lindo de morrer, fotinhos pra todos os lados. E o coração sempre acelerado esperando a hora de ir comprar o ingresso.
Voltamos pro teatro, faltando ainda meia hora pra hora combinada e a muvuca já estava ali.... ai começou a confusão real.... demorou um tempão para conseguirem arrumar tudo, cercadas as moças da bilheteria começaram a chamar as pessoas pelo nome para pegarem suas senhas, nós que estávamos no começo da fila fomos chamados rapidinho e claro mais lágrimas ao ouvir nossos nomes chamados, tão pessoal, fantástico, depois ficamos assistindo ao espetáculo a parte que era de um lado da cerca as pessoas ansiosas esperando serem chamadas e do outro lado da cerca nós que já tínhamos nossas senhas (que significavam ingressos garantidos) na mão, o mais bonito foi quando as senhas foram chegando ao fim, cada nome que era chamado que a pessoa não aparecia os que esperavam por uma chance de ter a senha vibravam, e vibravam mais ainda aqueles que tinham seus nomes chamados, um casal que conseguiu suas senhas na última hora foi até aplaudido por nós da multidão dos com senha (uma emoção única, todo mundo torcendo).
Depois que acabaram de ser distribuidas as senhas, lá fomos nós montar a fila de novo na ordem de sempre, e desta vez o Gianni perdeu as estribeiras e saiu chingando uma turistada em dialeto pra irem pro fim da fila.
Recebemos instruções de levar o dinheiro já trocadinho para comprar os ingressos (12 euros), e a bilheteira começou a chamar, muito legal, um pega o dinheiro e o outro entrega o ingresso.


Finalmente com os nossos ingressos em punho fomos jantar antes de voltar pra ópera!!
Ao chegar notamos que quase todos nossos companheiros de loggione tinham ido pra casa trocar de roupa, dar uma arrumadinha, mas nós estávamos iguaizinhos deste antes do sol nascer quando saímos para essa maratona em busca dos ingressos.
E sim! Nós assistimos a estréia do Rigoletto no Scala com o Nucci!! De pé as 3 hs de ópera, mas assistimos!! Tínhamos poltronas mas sentados não víamos nada (exatamente isso é que são os lugares do loggione, lugares ruins do teatro, pro povão mesmo, hehe). O Nucci foi um Deus, impressionante!! Já a ópera como um todo não foi nada daquilo que estamos acostumados nas gravações, faz bem ouvir o ao vivo para também equilibrar nossas cobranças pessoais. Mas o mais divertido mesmo foi assistir do loggione, os loggionistas são uma família que ama a ópera e que a conhece profundamente e exatamente por isso palpitam!!! Muito legal!! E nós entramos no esquema!! Nos olhávamos em momentos cruciais, torciamos o nariz juntos e claro que depois do "Cortigiani" gritamos todos BRAVO em coro!! Foi realmente uma experiência única!! Munida da minha agendinha que tem a programação anual do teatro pretendemos voltar muuuuuuuuuuuuitas vezes, e sempre no loggione é claro!!!


sábado, 23 de janeiro de 2010

Viver num alloggio é isso...

Como ninguém comentou meus últimos posts desanimei em escrever, mas hj ao entrar no banheiro me deparei com uma cena tão surreal que tive que compartilhar:


O que leva alguém a fazer isso??? kkkkkkkkkkkkk



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Buon Natale!!!

Dia 23/12 Natalício de Meishu Sama (é o "Natal" da minha religião) acordei cedinho e me preparei para ir a Praglia (uma outra cidadezinha aqui pertinho de Padova), fui até a rodoviária de ônibus da Sita (que é a companhia que cuida dos ônibus intermunicipais daqui) e fui procurar qual ônibus eu deveria pegar, não achei Praglia em lugar nenhum e peguei a fila pra o guichê, na minha vez perguntei e com uma respota seca o senhor me disse "Vo'  alle 9:45h" e instantâneamente começou a atender o próximo e eu fui "explusa" da fila... eram 9hs e eu teria que esperar 45min e como não tinha entendido o nome do ônibus voltei então pro fim da fila e na minha vez perguntei de que plataforma saía o ônibus e outra vez instatâneamente atendeu o próximo e eu fiquei pra trás... fui até a plataforma e quando li a placa com os ônibus que percebi que eu tinha sim entendido o nome do ônibus, era apenas "Vo' " mesmo. Na rodoviária não tinha nem onde sentar porque os bancos estavam todos molhados de neve e chuva, fiquei enrolando, aproveitei e tirei uma foto dos horários dos ônibus pra Adria com o celular... e voltei pra fila outra vez, dessa vez pra perguntar como funcionam os abbonamenti do ônibus intermunicipal (são assinaturas mensais para estudantes, trabalhadores, etc, que ficam muito mais barato do que pagar avulso todo dia), sempre dedicando apenas meio segundo a mim me mostrou o formulário e começou a atender o próximo.... tentei pegar mais de um formulário mais fuzilada com o olhar do cara e desiti..... não voltei mais pra fila....
Fui pra plataforma sentindo muita falta do meu livrinho do Harry Potter que ficou na cabiceira da cama.... o ônibus chegou.... pedi ao motorista que me avisasse quando era a tal Praglia pra eu descer e enviei um sms para a maestrina avisando que eu já estava no ônibus. Acordei quando o motorista me chamou e desci, liguei pra maestrina e fui até a casa dela. O ensaio estranhissimo foi exatamente como me parecia que seria, eu, ela e o piano, ela tocando a parte do piano e eu cantando a parte do soprano do coro sozinha, graças a Deus meu estudo desde que cheguei aqui deu certo e eu tava sabendo bem a música, combinamos dinâmica, articulação e fizemos algumas mudanças na partitura, depois ela me trouxe devolta para Padova de carro e inacreditávelmente pegamos trânsito e cheguei atrasada para o almoço no Marzolo (o verdadeiro!) com a Paty. 
Por conta deste ensaio nem me encontrei com o Robson (e peguei as coisinhas que minha mãe enviou por ele...) que já foi embora para passar as festas com a irmã e a namorada.
Almoçamos e eu voltei correndo pra casa para assistir ao vivo pela net o culto do Natalício de Meishu Sama, adoro modernidade, foi como se eu estivesse em carne e osso no culto com direito a dormir no Johrei e tudo..... rs.....
Depois do culto lá fomos nós ao supermercado (é nós vamos praticamente todo dia no supermercado) comprar algumas coisas pro Natal e perguntar se abriria no dia 24 para comprarmos um frango tonto para a ceia.....
Voltamos pra casa e depois de bem aliviada com o sucesso do ensaio estranho da manhã passei minha primeira noite sem estudar a Missa só vendo filme e seriado no notebool.... heheheh
Dia 24/12......

Até o dia 28 os bandejões estarão fechados e teremos que comer aqui em casa mesmo na hora do almoço, então na hora do almoço estreiamos nossa primeira comida comida feita aqui com os nossos dois fornellos, um super gnocchi fresco de 0,50 euros (inacreditávelmente barato!!!!!) com molho de tomate e um delicioso grana padano ralado por cima. Uma delícia!!!
Fomos então pro Giotto, nosso supermercado preferido (rs!) comprar nosso franguinho. O resto do dia foi realmente milhares de ligações de ambas as famílias no computador, era skype, msn, gtalk, todos os recursos foram usados e falei com todos os meus queridos, foi uma sensação maravilhosa, como se todos estivessem aqui comigo, acho que falei com mais pessoas queridas que falo normalmente no natal, a fofa da minha vó ligou pro meu número skype e não conseguia se conter de alegria de realmente estar falando comigo ligando pra um telefone de São Paulo (chorei..... até....). Realmente a modernidade é uma coisa fantástica, apaixonante!!!!! Nessas mil falações testei inclusive meu net com windowns xp (desculpem os fanáticos por linux, eu tb sou super fã mas o que eu podia fazer se minha chiavetta de interntet 3 g não funciona no linux?), operação muito complexa nesses últimos dias de instalar sem cd por uma pen drive e tudo mais, pena que o meu teclado ainda está todo errado porque o windowns que eu baixei é em espanhol (melhor do que o primeiro que era em chinês claro.... rs....).
Foi então a hora da nossa super ceia..... e nos demos conta que teríamos que usar a cozinha nojenta para esquentar o nosso frango..... ao descermos (fica no primeiro andar) nos sentimos totalmente donas do alojamento, mesmo os pouquíssimos gatos pingados que  também estão passando o natal aquii sairão para passar  a noite fora, estranho um lugar tão grande tão cazio deste jeito.....
Enquanto falávamos com nossas famílias ambas pensaram "acho que a cozinha nao é tão nojenta assim, foi só uma primeira má impressão, não devíamos te comprado o fornello, foi um exagero....." mas quando entramos na cozinha de frango na mão, nossa sensação foi o contrário: "graças a Deus que compramos o fornello, isso é inusável, será que dá pra comer o frango frio mesmo?"
Decidimos arriscar no microondas, que parecia o aparelho menos sujo do recinto... mesmo assim ao abrir a portinha do microondas tivemos que dar uma limpada nele porque o teto dele estava imundo e não podíamos correr o risco de cair no nosso frango.
Pra piorar o microondas não desligava mais.... demorou um tempão para conseguirmos fechar a portinha dele e ele não ligar instantâneamente.

Subimos pro meu quarto com o frango bem quentinho e no fornello eletrico fizemos um purê (já pronto) com azeitonas e grana padanno. 
E acompanhado do nosso pro seco de longneck fizemos uma maravilhosa ceia (ainda com participações constantes de familiares e amigos via skype), que bom que temos uma a outra por aqui, sozinha sozinha seria bem difícil mesmo.
Não tivemos troca de presentes porque trocamos presentes no domingo passado na Lush lá de Veneza.... rs... uma deu de presente pra outra o produto que a outra queria comprar.... hehehhe
Mesmo depois da meia-noite daqui, com bastante vinho e muito bem alimentada fiquei acordada até dar a meia-noite no Brasil e ainda falar com mais queridos. Só lá pelas 4 da manhã daqui que fui dormir sentindo todos bem próximos afinal "longe é um lugar que não existe" (graças a internet!!!hehehe).....
Dia 25 foi praticamente um dia como outro qualquer por aqui, acordei mega tarde (eu sei que preciso começar a me acostumar a acordar cedo, mas é difícil.... rs), fizemos nosso almoço ainda com o franguinho de ontem e o purê que não conseguimos comer tudo e de noite fomos na estação ferroviária encontrar o Flávio que chegava, fomos a pé porque o horário dos ônibus em pre-festivo e festivo é bem difícil de entender, e hj pelo jeito não teria ônibus nenhum. Encontramos com ele na porta da estação e fomos a pé até o hotel dele que fica bem perto dela. Depois fomos procurar algum lugar pra comer, mas depois de entrarmos em um estranho bar que reunia uma fauna realmente estranha, desde milicos bêbados com coreanos..... resolvemos voltar pra estação ferroviária e ir no bar de lá. Ficamos um bom tempo conversando e depois voltamos pra casa também a pé (esse percurso estação - casa de noitão tá ficando chavão já....). Antes de dormir já comecei a fazer a mala, afinal dia 26 vou pra Loano, que fica do outro lado da botinha......




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O primeiro último dia

Uma semana se passou desde que eu cheguei aqui e não pude ir nenhuma vez no Conservatório ter aula, além de outros compromissos que eu tinha por aqui terem sido cancelados devido a neve.
Não pude ir no Conservatório porque a secretária do bienio (o mestrado se chama assim aqui) estava com gripe suína (tá forte o surto de gripe por aqui e não vejo noticiado em lugar nenhum, tem até cartazes espalhados pela cidade de vacina gratuita) e sem passar por ela eu não poderia frequentar as aulas.
Ansiosa para finalmente ir no conservatório na segunda dia 21/12 procurei pela internet sites informando dos ônibus para lá (afinal é intermunicipal!) e a previsão era ter que sair de casa as 8 horas da manhã (que crueldade comigo..... rs) mas antes ir deitar no domingo recebi um torpedo da Luisa me avisando que o Conservatório estaria fechado na segunda-feira devido a previsão de mais neve. 

Mesmo tendo uma boa e longa noite de sono fiquei frustrada de não ir no Conservatório, quero que as coisas comecem logo!!!!! Fomos então aos afazeres normais de todos os dias, uma passadinha no supemercado (afinal ter apenas um frigobar e nenhum armário de comida requer compras muito mais frequentes, além de ainda faltarem muitas coisinhas para casa que de repente me dou conta que falta e preciso comprar). Aproveitei a ida ao supermercado e comprei um babbo natale pra colocar na porta do meu quarto, uma decoração natalina sempre aumenta o meu conforto..... rs... 
Olhamos nos nossos papeizinhos do ESU para ver qual bandejão estaria aberto nesses dias de férias por aqui, e estava escrito "Marzolo", ficamos super felizes que além do mais o que estava aberto era aquele aqui perto de casa que tentamos ir e chegamos 2 minutos depois de fechar na semana passada. 
Mas claro que ser bichete em qualquer faculdade envolve muita micagem imagina ser bichete em outro país, os micos são altamente colecionáveis (relembrando meu incidente com o sal de frutas......). 
Hoje a neve estava diferente de sábado, estava fina e menos agressiva, com os floquinhos de neve perfeitinhos, pequenos e desenhados, pena que é algo que não se pode guardar de lembrança.....
Chegamos no bandejão e ele estava fechado, não acreditei, lemos que ele estaria aberto, comecei a ficar indignada com a bagunça aqui na Itália, como assim diz que vai estar aberto e está fechado? Vi que tinha uma pessoa lá dentro perto da janela e resolvi ir perguntar e a resposta  fez eu me sentir uma bichete total "Hoje só o Marzolo tá aberto!", (como assim esse não era o Marzolo??) quando me dei conta de que o mico já tinha acontecido perguntei pro moço onde ficava este tal Marzolo e pela explicação que ele deu haviamos passado na frente dele para chegar até aqui...... 
Fizemos o caminho inverso e fomos observando um grupo de jovens indo em direção a um prédio, seguimo-os e chegamos no verdadeiro Marzolo.
Graças a Deus com procedimento já conhecidos, pegar a fila escolher qual comida queríamos e dessa vez acho que aprendemos de vez como funciona o prato ridotto (que custa 1 euro a menos e que pro nosso bolso faz muita diferença) e também é tanta comida no prato completo que não conseguimos comer tudo mesmo (Primo: um prato fundo de massa + Secondo: normalmente uma carne, peixe, meio prato + Contorno: acompanhamento, batata, legumes, tb meio prato + pão + bebida a vontade + fruta de sobremesa).
De bandejinhas na mão nos sentamos e percebemos que não tínhamos o papelzinho verde para trocar por sobremesa depois (igual nos outros bandejões) voltei pro caixa e disse que o moço tinha esquecido de me dar o papel e ele me respondeu que era com a minha notinha que estava ali na minha bandeija.... os micos não acabam.......
Sentadas comendo começamos a olhar em volta.... parece que todos os italianos já tinham voltado para suas casas para passar as festas, sobramos nós, alguns franceses (parece estar bem complicado de ir pra lá por causa da neve), coreanos, pessoas do leste europeu e muitos africanos (daqueles retintos e altões, ouvi alguns falando português, temos que começar a prestar mais atenção no que falamos rs.......).
Simpaticamente além das frutas hoje tínhamos panetone como opção de sobremesa também.
A temperatura começou a subir e a previsão do tempo para de noite era de chuva, o que com certeza significava temperaturas positivas em breve, a volta pra casa já foi totalmente agradável. E com o fim da neve já foi remarcado o meu ensaio de sábado passado suspenso pela neve para quarta-feira.
Na terça de manhã segui as instruções da Luisa e liguei para o conservatório bem cedo para perguntar se hoje abriria e claro pra começar o dia com um bom mico ouvi de resposta "Claro, se você ligou pro conservatório e eu atendi é porque estamos abertos não?"....
Nos encapotamos e fomos (temperatura em torno de 0ºC) pro ponto de ônibus, fiquei bem feliz em perceber que a minha pesquisa de qual alojamento era mais perto do ponto para ira pra Adria tinha realmente funcionado (afinal enquanto eu fazia a pesquisa não tinha muita certeza se eu tinha entendido direito mesmo), compramos as passagens na edicola do lado do ponto e ficamos esperando, com uns 10 minutos de atraso entramos no ônibus. No site a previsão para a viagem era de 1h10min mas demorou 1h30min, acho que por causa da neve o ônibus ía mais devagar.
Olhando pela janela no caminho estranhamos em não ver pedaços desabitados entre as cidades, é praticamente uma grudada na outra (por isso demora mais também, porque são só 50km até Adria) e o ônibus passa por dentro de todas e aos poucos todos desceram e só sobramos nós duas. Fomos então pedir informações para o motorista de em qual ponto era melhor descermos para ir pro conservatório, mas a conclusão dele é que era melhor no final mesmo.
No relógio do ônibus quando descemos marcava 13:30hs e como a Luisa tinha dito que a aula dela começava as 13hs fomos bem rápidinho pelas 3 quadras, que separavam o ponto final do conservatório, chegamos lá e o portão tava fechado a cadeado, não era possível.... mas bem no cantinho vi umas pessoas entrando pela rua lateral e lá fomos nós.

Finalmente dentro do Conservatório (um prédio antigo bem bonito), pedimos informação na portaria e munidas de milhões de documentos fomos falar com a Sara preparadas pra perder algumas horas até conseguir resolver toda a burocracia e finalmente ter nossos planos de estudo (e horários de aulas) definidos. 
Mas não, a Sara só pegou os nossos diplomas reconhecidos pelo consulado e disse que todo o resto só em gennaio que agora não dava tempo de fazer nada, visto que hoje era o último dia de aula antes do recesso das festas, perguntei então da nossa carteirinha do conservatório (já pediram esse documento pra gente em outros lugares) e pro meu espanto a resposta foi que, ahhh isso só fica pronto lá pelo fim de gennaio.... meu Deus que lerdeza... pedi então uma declaração dizendo que somos alunas e coisa e tal só para ter um documento se voltarem a pedir.
Já que não perdemos nem 15 minutos na secretária voltamos para a portaria para perguntar em que sala estava a Luisa e pro nosso espanto "Ela ainda não chegou!", como assim? Ela estaria 1 hora atrasada? E todo mundo tava achando normal? Ligamos pra ela e ela disse totalmente calma que estava chegando..... ????????
Quando ela chegou subimos nós duas mais 3 alunos para a sala de aula, perguntei a hora, não resisti, e ela me respondeu 13:05h (sim, mais um mico, o relógio do ônibus estava uma hora adiantado).
Ficamos assistindo a aula dos outros alunos e no fim do dia (depois de eu ter saído da sala 2 vezes para socorrer o meu nariz que sangrava loucamente com a secura que fica dentro dos ambientes por causa da calefação), fui ter aula. Sem aquecimento, sem cantar a mais de 15 dias, sem ter idéia de onde estava a voz me inundei de alegria quando comecei a cantar e percebi que a voz tava lá onde deveria estar, sem dificuldades e tranquila. Não tinha idéia de quanto tava me fazendo falta cantar.......... que delíííííííííícia!!!! A minha sensação foi exatamente a sensação que o Toninho sempre me contava "Na Itália a gente acorda e a voz já tá no lugar, não precisa ficar procurando como aqui em São Paulo", uma sensação realmente muito boa, a Paty não queria cantar mas usei este argumento da sensação maravilhosa e ela fez aula e também sentiu esse prazer da voz estar simplesmente no lugar certo sem você fazer absolutamente nada.
Pegamos uma carona com a Luisa até a cidade de Rovigo onde pegamos o trem para Padova, chegamos na rodoviária e nos demos conta de que o trem do Robson deveria chegar em Padova em 1 hora e que não valia a pena voltar pra casa, então fomos no mercadinho da estação e compramos um kit de sobrevivência básico à espera: batatinha chips e vinho de caixinha tetrapark individual (hahaha). Esperamos por ele longas 3 horas e nada.... quando eu recebo  um torpedo dele dizendo que a previsão de chegada do trem era só as 23hs e que ele tava enviando um sms do celular de outro passageiro (a neve ainda estava bem ruim pros lados de Milão e os trens estavam sendo cancelados e vindo em baixissima velocidade devido ao congelamento dos trilhos).
Voltamos pra casa, mas como já eram 21hs não tinham mais ônibus e mais uma vez percorremos o caminho estação-casa mas agora com muito menos medo e bem mais quentinhas..... até tive condições de observar o caminho e descobrir que a rodoviária que eu deveria pegar o ônibus pra ir pro meu ensaio do dia seguinte era bem nesse caminho, perto de casa.......