Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome...

sábado, 27 de março de 2010

Pelos labirintos de Veneza

Em Janeiro passado teve uma audição no conservatório para os papéis adultos da ópera "Il Piccolo Spazzacamino" de Britten (originariamente "The little sweep" traduzido pro italiano) montagem do Teatro La Fenice em Veneza, e eu passei para cantar a personagem Rosa. Uhuuuu!!!
Já no fim de fevereiro começaram alguns ensaios cênicos só com os personagens adultos lá no conservatório mesmo e em março começaram os ensaios em Veneza.
Minha única ida a Veneza tinha sido naquele fatidigo dia em que comprei minha bota de neve.... naquele dia nosso único objetivo era chegar em San Marco e pra isso seguimos a strada nuova (que é uma rua que praticamente vamos eternamente reto) e depois quando começam as ruinhas seguimos as placas para San Marco... não que as placas sejam muito claras em Veneza, mas uma hora a gente acaba chegando em San Marco....mas o que fazer quando vc não vai para um ponto turístico? 
Os únicos meios de transporte em Veneza são seus pés ou o vaporeto (as gôndolas são só passeio.... heheh), mas o vaporeto para não residentes custa 10 euros cada passagem, ou seja inusável.... 
No primeiro dia de ensaio fui com uma colega que já tinha ido uma vez para a escola onde iríamos ensaiar.... descemos na estação de trem e pegamos a strada nuova, nossa primeira dificuldade foi sair da strada nuova, deveríamos virar a esquerda logo depois do supermercado Billa, mas a primeira "rua" que apareceu a esquerda era muito estreita e ela disse que se lembrava de algo mais largo e com um canal..... 
A próxima a esquerda já era mais larga e entramos nela, andamos andamos e de repente a rua que estávamos acabou, para a esquerda nossa única opção era ir a nado pelo canal e a direita começou a ficar cada vez mais estreito e resolvemos perguntar pra alguém que estava passando, estávamos erradas.... voltamos todo o caminho percorrido até o supermercado e aí sim achamos a tal rua a esquerda que não vimos da primeira vez porque estava com uma obra na frente e realmente ficou invisível.... 
Depois da primeira virada certa fomos bem confiantes.....  claro que tudo estava afinando, ruas, canais e pontes eram cada vez mais estreitos.... meu radar de paulistana sentou-se confortavelmente na posição "perigo eminente, fique sempre alerta!" apesar de todos em volta estarem tranquilos e terem me dito que não é nada perigoso.... quando nos demos de cara com parede a frente, rua estranha a esquerda e duas pontes a direita não menos estranhas resolvemos perguntar de novo.... uma senhora muito simpática nos disse que já estávamos perto (pelo menos.... rs) e nos explicou direitinho como chegar lá, mas comprovamos a fama de que os velhinhos de Veneza são ótimos para pedir informação mas depois vc tem que "pagar o preço" da informação e ouvir eles contarem toda a sua vida... hehehhe.... passamos por uma pontezinha que dava direto em um túnel por debaixo de umas casas sem nenhuma iluminação!!!! Meu radar de perigo quase quebrou o ponteiro de tanto espernear.... rs.... e aí finalmente chegamos na escola, o ensaio foi ótimo, conheci as crianças que cantam com a gente (é muito fofo trabalhar com crianças) e voltamos, claro que fazer o caminho de volta é muito mais fácil, mas mesmo assim ficamos muito atentas a tudo, quando chegamos de volta na strada nuova foi um alívio imenso, além do mais porque estávamos com os minutos contados para pegar o trem, senão teríamos que esperar um tempão até o próximo regional. 
No próximo ensaio em Veneza confiante na minha bússola interna fui sozinha e apenas com indicações orais até o Teatro Malibran, o começo era fácil.... strada nouva outra vez... já a próxima indicação me deixou em dúvida várias vezes: "quando acabar a strada nouva vire a esquerda", e como é que eu sei que a strada nouva acabou? Porque não é assim óbvio, não é uma rua constante, sempre no mesmo sentido ou com o mesmo tamanho, ela afunila, depois alarga de novo, é cheia de   pontes... mas quando ela acabou realmente eu tive  certeza que eram só suspeitas as hipóteses anteriores, pois se chega numa praça que sua única chance é virar a direita e passar por uma ponte que dá direto numa marquise... tem uma boa cara de fim mesmo..... hehehe....  fiz todas as viradas indicadas e agora eu tinha que encontrar uma igreja (a qual o nome eu esqueci no mesmo instante que me disseram) e virar depois dela.... o lance é que tem igreja para todos os lados e elas são enfiadas no meio dos predinhos, tudo muito muito muito apertado.
Continuei com muita calma olhando para todos os lados com muita atenção e lugares ainda mais inóspitos apareciam para mim, mas minha bússola é boa e achei a tal igreja, virei depois dela e andando mais um pouco avistei o teatro (também incrustado no meio dos prédios).  
E assim que  me aproximei mais reconheci na porta do teatro o cartaz da ópera, que lindo!! Meu nome tava lá!! Super emocionante!! Mas minha alegria infelizmente não durou muito quando percebi que todas as portas estavam fechadas e que eu não sabia como entrar, liguei pra alguém do elenco e me disseram para dar a volta e entrar por trás do teatro, mas como eu chegava na parte de trás do teatro?? Passei por vários arcos, cheguei numa pracinha e já me sentia bem longe do teatro mas fui indo na direção da parte de trás dele, ai cheguei num canal e minhas opções eram pontezinha (que não me parecia dar na parte de trás do teatro, só se o canal passassem dentro da platéia...) e virar para a esquerda e dar de cara com uma parede, escolhi a parede e um pouco antes de não ter mais nada o que fazer senão pedir resgate achei uma porta escrita portineria e finalmente achei a entrada dos artistas do teatro.
Primeira vez em um teatro é uma emoção única, quando me identifiquei na portaria já me deram o número do meu camarim e como eu não movi um músculo depois dessa informação me explicaram como chegar lá. Conhecer um teatro novo por dentro é sempre uma aventura, primeiro identifico os pontos de sobrevivência, achar os banheiros por exemplo (essencial depois de andar tanto), e as rotas úteis, depois claro começo a explorá-lo quando tenho um tempinho livre. Me acomodei no meu camarim e instantaneamente entrou uma moça para me levar para a prova de figurino. Tava tudo desmontado ainda, mas adorei meu figurino, a estrutura da minha saia é de espuma, super interessante, assim não precisa daquelas mil saias por baixo para ficar armado, nunca usei desse tipo, pena que pude ensaiar com ela já. 
Fomos para o palco e começamos o ensaio, não sei se a platéia estava apagada e depois acenderam ou eu que estava distraída mesmo mapeando todo o cenário na cabeça e ajustando as marcas a ele, mas só no meio de uma cena olhei pra platéia e me dei conta de quão lindo o teatro é, acho que é o mais bonito que já cantei na vida, assim que tive chance fui na platéia admirá-lo e encontrei em cima do palco um retrato da própria Malibran, tudo muito emocionante! 
No dia seguinte de ensaios resolvi dar uma passeada porque cheguei com quase 2 horas de antecedência por conta do horário de trem de Adria para Veneza (claro que de Padova pra Veneza tem trem toda hora, mas vindo de Adria não tem essa fartura de horários, o trem que faz esse trajeto é bem fofinho, só com 3 vagões e vai por dentro do campo mesmo, parando em tudo quanto é estaçãozinha, muito bonitinho, eu aproveitei o percurso de 1.50 h para marmitar, repassar toda a ópera na cabeça, com seus diálogos e marcações e ficar observando a vista, como eu estava sentada no primeiro banco do trem, quando entrava e saia o moço que conferia as passagens eu via toda a cabine e ainda pude acompanhar que em cada estação que parávamos esse moço descia para colocar uma chavinha numa caixinha de metal, minha teoria é que servia para descer as cancelas e bloquear o trânsito até a próxima estação).
Comecei pelo que ficava mais perto do teatro e  fui conhecer o Rialto, que é uma enorme ponte com lojinhas por toda ela com uma vista linda acho que do maior e principal canal de Veneza, sabe aquela imagem de cartão postal? Deve ser tirada dessa ponte, muitos barquinhos passando, restaurantes nas margens e trânsito de gôndolas. Resolvi ir então em San Marco, como daquela primeira vez quando chegamos lá já estava fechado, pretendia entrar dessa vez. 
Cheguei facilmente em San Marco seguindo as placas, como é linda essa praça, dessa vez não chorei, mas a emoção é a mesma, tirei um pouco de fotos e depois de controlar o relógio resolvi encarar a fila para entrar na Basílica, normalmente em Veneza você escuta uma grande diversidade de idiomas pelas ruas mas na fila da Basílica raro foi escutar italiano... heheh.
A Basílica na minha opinião é mais bonita por fora do que por dentro, pelo menos da parte que consegui ver, ela é muito escura dentro e todo o teto que é feito de mosaicos de ouro passa quase desapercebido (sem luz fica bem difícil de enxergar). O que eu achei mais lindo é que ela tem um vitral bem grande na frente que tava entrando o sol naquele momento (um pouco depois do meio-dia) e que iluminava exatamente o altar! Como para visitar as outras partes como tesouro, museu, mirador e etc tinha que pagar (para cada um) fiquei só curtindo a Basílica por dentro e enquanto eu pensava que naquela escuridão tudo o que dava pra fazer era filmar, mas infelizmente (e sem eu entender o porque) é proibido filmar dentro da Basílica, vi um homem que filmava escondido e  dentre muitos idiomas que passavam do meu lado ouvi ele dizendo: "mas eu não posso filmar muito porque aqui eles não deixam filmar", hehehehe, conterrâneos, tivemos a mesma idéia...
Ainda tinha um tempinho, então fui andar pela enorme praça, os cafés são muito fofos, com música instrumental ao vivo, só não consigo entender como as pessoas ficam brincando com os pombos no meio da praça.... será que não sabem que eles são cheios de doenças? 
Comecei meu caminho de volta então para o teatro, primeiro tinha que seguir as placas para Rialto e de lá era fácil voltar, mas de repente cheguei numa pracinha que não tinha nenhuma placa e avistei lá no fundo uma parede com uma flecha indicando para Rialto pixada, segui a indicação e um silêncio muito estranho apareceu, os milhões de turistas tinham desaparecido e eu estava sozinha de volta nas ruinhas....  pedi informação para um gondoleiro e voltei para a multidão, ufa.... cheguei sã e salva no teatro. 
Mais um ensaio muito bom e na volta para a estação uma super surpresa, encontramos o cartaz da ópera colado pelas ruas da cidade. Mega chique!!!!
Nos últimos dias de ensaio e também nas récitas eu me sentia praticamente dominando Veneza, mas era só se distrair um segundo que tinha que voltar e olhar com mais cuidado. 
A ópera foi o maior sucesso! Já era muito emocionante contracenar com as crianças mas com o teatro inteiro lotado de crianças foi mais emocionante ainda, nós do elenco não sabíamos que seria assim, já maquiados e de figurinos prontinhos pra entrar em cena teve um ensaio da orquestra com o público, exatamente como tá escrito na partitura do Britten, como as crianças vieram com suas escolas e já tinham reservado seus ingressos com bastante antecedência aprenderam as 4 canções que o coro canta para cantarem junto e logo no início teve esse ensaio com eles, e durante a ópera era muito emocionante ouvir as vozes vindo da platéia para o palco. 
Fiquei muito feliz de participar dessa montagem e de trabalhar em Veneza, no dia da última récita passeamos de novo por Veneza, pena que foi o único dia que não tava calor, portanto eu estava mal agasalhada pra todo aquele frio e comecei a congelar, fui colocando todos os chales que eu tinha comprado um em cima do outro, até que comprei um moletom escrito "Università Venezia" que finalmente me esquentou.
Voltamos por outro caminho até a estação, visitamos o Teatro La Fenice e andamos pacas por Veneza, vimos a casa onde viveu o Cimarosa, uma outra casa que dizia ter sido onde Mozart passou um carnaval, uma torre totalmente torta (acho que tá afundando.... tipo os prédios de Santos), muitas praças, pontes, canais, e cia.  
Fiquei espantada em saber que da estação de trem até o Teatro Malibran percorremos todos os dias quase 2,5 km em cada trajeto.... como a cidade é toda peatonal não parecia ser tão longe, mas se eu contar o tempo que demorava para chegar lá..... 



Ao acordar hoje meu corpo todo estava dolorido de tanto andar, notei que acabei pegando o resfriado que quase o elenco todo tinha pego (pelo menos peguei depois que acabou, hehe) mas que eu ainda tava com um belo sorriso no rosto e que meu quarto estava adoravelmente perfumado pelas flores que ganhei  ontem.....




quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A família loggionista!!!

A informação que tinhamos obtido do tenor uruguaio que conhecemos no dia anterior foi "os ingressos do loggione são vendidos só no dia da récita mas para conseguir comprar tem que ir bem cedo para a fila que fica na lateral do teatro". Munidos de uma esperança enorme movida por essa informação acordamos antes do sol nascer, acho que eu não tinha mudado nem de posição na cama ainda... O café da manhã foi totalmente automático e quando saimos em direção a metropolitana ainda era noite fechada, e claro aquele frio pra acompanhar.... mas a idéia de assistir a Prima do Rigoletto no Scala com o Nucci dava forças infinitas...

Ao subirmos as escadarias da estação Duomo  (que fofamente tinha uma das escadas como teclas de piano que tocavam mesmo e afinadas) demos de cara com o próprio Duomo sendo banhado pelos primeiros raios de sol, lindííííssssssimo!!!!!! Mas nosso objetivo era chegar o mais cedo possível ao Scala e sem nem tirar uma fotinho (essa ai do lado foi tirada mais tarde) atravessamos a Galeria Vittorio Emmanuele como se fosse apenas uma passagem comum e o avistamos, o Teatro Alla Scala di Milano, templo sagrado da ópera, onde estreiaram tantas óperas que estudamos, mas nada de pausa para foto precisavamos achar a fila, o dia já tinha nascido e não tinhamos chegado tão ccedo quanto gostaríamos, afinal nem conhecíamos o esquema e faríamos de tudo pra poder assistir essa ópera.
Na lateral esquerda do teatro vimos um grupinho de pessoas e foms lá chegando de mansinho, perguntamos se era para a fila do loggione e o grupo estranho formado de dois velhinhos, uma japonesa (que não falava nenhuma outra lingua além do japonês) e um jovem de boina, depois de uma bela medida em nós disse que SIM, aquilo era a fila pro loggione (era real!!!! O tal loggione existiva mesmo!! Nós tínhamos mesmo chance de ver a ópera!!),.
Foram chegando outros velhinhos que sempre nos mediam com aquele olhar de "e esses quem são? nunca vi por aqui? E são estrangeiros? E chegaram mais cedo do que eu?", depois de uns 15 minutos chegou o Gianni (um senhor com um caderno na mão) e começou a anotar o sobrenome de cada um no seu caderno e depois ele disse que devíamos ir tomar um café se esquentar um pouco e voltar pelas 10hs... nenhum de nós se mexeu e vendo isso o Gianni voltou e disse de novo que podíamos ir e complementou com uma frase inacreditável "vocês são do 5 ao 8 na fila COM CERTEZA terão ingressos", nós quatro começamos a chorar, foi involuntário, era de verdade, nós íamos na estréia do Rigoletto no Scala....
O máximo que conseguimos nos distanciar do lugar sagrado da fila do loggione foi atravessar a rua e ir no "Bar dalla Scala" tomar um café (pela janela ainda tínhamos uma visão da bilheteria... rs). Eu não tomei nada, tava enjoada de tanta emoção, mas depois que chegou o deles eu fiquei até com vontade de pedir nem que fosse só pra ficar olhando de tão mimoso que era (além é claro de que os outros frequentadores do bar eram visivelmente funcionários do teatro, conversando sobre vozes, cantores..... nosso mundo....).
Voltamos para a fila quase 50 minutos antes da hora combinada de puro pânico de perder os ingressos, não acreditavamos totalmente ainda. Em poucos minutos já ficamos amigos dos outros loggionistas afinal nosso assunto e comum era imenso (óperas, gravações, cantores...), alguns velhinhos assistiram a Callas ao vivo, o primeiro da fila era amigo íntimo do Di Steffano.... cada vez parecia mais irreal, era um mundo tão nosso.... tudo que sempre foi tão distante ali tão pertinho.....
As 10hs o Gianni fez a primeira chamada pra conferir se os interessados da primeira lista continuavam ali, e nos dispensou para passear outra vez e voltar ao meio-dia.
Fomos então ao Museu do Scala, outro sonho e muita muita muita choradeira..... ver os quadros que são as capas de tantas partituras, reconhecer os personagens dos quadros sem ter que ler as legendas.... os adereços usados nas primeiras produções das montagens... orgulho total ao ver o busto do Carlos Gomes junto com o de Verdi, Bellini, Rossini... etc... Os quadros da Callas e da Tebaldi são impressionantes!!!! E claro a sala... aquela tão conhecida cortina de tantos videos.... pudemos entrar em um dos camarotes e ver a sala, e de repente toda aquela minha agitação interna parou, um silêncio interno nunca achado nas minhas mil aulas de meditação tomou conta de mim, perdi a noção da hora, não tenho idéia de quanto tempo fiquei ali, mas com certeza eu poderia ficar ali uma eternidade.
Depois de toda a emoção da visita no Museu (quase já sem lencinho na bolsa) , com muito menos euros na carteira e um milhão de itens comprados na lojinha do Scala (como por exemplo minha agenda 2010, chiquérrima, com a programação do teatro toda marcada já) voltamos para a segunda chamada do Gianni ao meio-dia, notamos que algumas pessoas que vão sempre chegaram a ficar irritadas de estarem atrás da gente.... rs... dos estranhos no ninho, já tão enturmados com os outros.... rs...
Depois desta chamada o Gianni (desta vez acompanhado de seu lindo labrador, para assegurar a ordem... rs - e foi nesse momento que percebemos que ele não era um funcionário do teatro e sim um voluntário que faz isso por amor e para evitar confusão, e claro, se colocou na lista na hora que ele chegou, ele era o 10º) começou a organizar a fila, já tava uma muvuca, empurra pra cá e empurra pra lá até todos ficarem na ordem da lista pré-oficial, essa fila foi a mais difícil, estávamos mortos de fome e não tínhamos mais  glicose pra aquecer o corpo (além de já estarmos a 5 hs de pé no frio), para amenizar meu celular tocou e era a minha tia Adriana e a minha avó Gilda (que se chama assim por causa exatamente da Gilda personagem do Rigoletto) ligando via skype, a vovó adorou saber que eu estava na fila do Scala para ver Rigoletto, fofa!!!
As bilheteiras oficiais chegaram e lá pelas 13:30hs elas começaram a fazer a lista oficial, próxima chamada agora as 17:30hs!

Saímos desimbestados de fome e paramos para comer no primeiro lugar que achamos, pagamos caro e comemos pouco....
Tendo 4 hs de tempo fomos finalmente passear por Milão, a maior parte dos pontos turísticos são ali em volta do Scala mesmo. Fomos na Galleria agora com calma, podendo babar no piso e no teto deslumbrante, fomos na apaixonante loja da Ricordi tb na galeria, fomos visitar o Duomo (enorme, escura, com vitrais ultra coloridos) e depois andamos até o Castello Sforzesco, tudo lindo de morrer, fotinhos pra todos os lados. E o coração sempre acelerado esperando a hora de ir comprar o ingresso.
Voltamos pro teatro, faltando ainda meia hora pra hora combinada e a muvuca já estava ali.... ai começou a confusão real.... demorou um tempão para conseguirem arrumar tudo, cercadas as moças da bilheteria começaram a chamar as pessoas pelo nome para pegarem suas senhas, nós que estávamos no começo da fila fomos chamados rapidinho e claro mais lágrimas ao ouvir nossos nomes chamados, tão pessoal, fantástico, depois ficamos assistindo ao espetáculo a parte que era de um lado da cerca as pessoas ansiosas esperando serem chamadas e do outro lado da cerca nós que já tínhamos nossas senhas (que significavam ingressos garantidos) na mão, o mais bonito foi quando as senhas foram chegando ao fim, cada nome que era chamado que a pessoa não aparecia os que esperavam por uma chance de ter a senha vibravam, e vibravam mais ainda aqueles que tinham seus nomes chamados, um casal que conseguiu suas senhas na última hora foi até aplaudido por nós da multidão dos com senha (uma emoção única, todo mundo torcendo).
Depois que acabaram de ser distribuidas as senhas, lá fomos nós montar a fila de novo na ordem de sempre, e desta vez o Gianni perdeu as estribeiras e saiu chingando uma turistada em dialeto pra irem pro fim da fila.
Recebemos instruções de levar o dinheiro já trocadinho para comprar os ingressos (12 euros), e a bilheteira começou a chamar, muito legal, um pega o dinheiro e o outro entrega o ingresso.


Finalmente com os nossos ingressos em punho fomos jantar antes de voltar pra ópera!!
Ao chegar notamos que quase todos nossos companheiros de loggione tinham ido pra casa trocar de roupa, dar uma arrumadinha, mas nós estávamos iguaizinhos deste antes do sol nascer quando saímos para essa maratona em busca dos ingressos.
E sim! Nós assistimos a estréia do Rigoletto no Scala com o Nucci!! De pé as 3 hs de ópera, mas assistimos!! Tínhamos poltronas mas sentados não víamos nada (exatamente isso é que são os lugares do loggione, lugares ruins do teatro, pro povão mesmo, hehe). O Nucci foi um Deus, impressionante!! Já a ópera como um todo não foi nada daquilo que estamos acostumados nas gravações, faz bem ouvir o ao vivo para também equilibrar nossas cobranças pessoais. Mas o mais divertido mesmo foi assistir do loggione, os loggionistas são uma família que ama a ópera e que a conhece profundamente e exatamente por isso palpitam!!! Muito legal!! E nós entramos no esquema!! Nos olhávamos em momentos cruciais, torciamos o nariz juntos e claro que depois do "Cortigiani" gritamos todos BRAVO em coro!! Foi realmente uma experiência única!! Munida da minha agendinha que tem a programação anual do teatro pretendemos voltar muuuuuuuuuuuuitas vezes, e sempre no loggione é claro!!!


sábado, 23 de janeiro de 2010

Viver num alloggio é isso...

Como ninguém comentou meus últimos posts desanimei em escrever, mas hj ao entrar no banheiro me deparei com uma cena tão surreal que tive que compartilhar:


O que leva alguém a fazer isso??? kkkkkkkkkkkkk



terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Buon Natale!!!

Dia 23/12 Natalício de Meishu Sama (é o "Natal" da minha religião) acordei cedinho e me preparei para ir a Praglia (uma outra cidadezinha aqui pertinho de Padova), fui até a rodoviária de ônibus da Sita (que é a companhia que cuida dos ônibus intermunicipais daqui) e fui procurar qual ônibus eu deveria pegar, não achei Praglia em lugar nenhum e peguei a fila pra o guichê, na minha vez perguntei e com uma respota seca o senhor me disse "Vo'  alle 9:45h" e instantâneamente começou a atender o próximo e eu fui "explusa" da fila... eram 9hs e eu teria que esperar 45min e como não tinha entendido o nome do ônibus voltei então pro fim da fila e na minha vez perguntei de que plataforma saía o ônibus e outra vez instatâneamente atendeu o próximo e eu fiquei pra trás... fui até a plataforma e quando li a placa com os ônibus que percebi que eu tinha sim entendido o nome do ônibus, era apenas "Vo' " mesmo. Na rodoviária não tinha nem onde sentar porque os bancos estavam todos molhados de neve e chuva, fiquei enrolando, aproveitei e tirei uma foto dos horários dos ônibus pra Adria com o celular... e voltei pra fila outra vez, dessa vez pra perguntar como funcionam os abbonamenti do ônibus intermunicipal (são assinaturas mensais para estudantes, trabalhadores, etc, que ficam muito mais barato do que pagar avulso todo dia), sempre dedicando apenas meio segundo a mim me mostrou o formulário e começou a atender o próximo.... tentei pegar mais de um formulário mais fuzilada com o olhar do cara e desiti..... não voltei mais pra fila....
Fui pra plataforma sentindo muita falta do meu livrinho do Harry Potter que ficou na cabiceira da cama.... o ônibus chegou.... pedi ao motorista que me avisasse quando era a tal Praglia pra eu descer e enviei um sms para a maestrina avisando que eu já estava no ônibus. Acordei quando o motorista me chamou e desci, liguei pra maestrina e fui até a casa dela. O ensaio estranhissimo foi exatamente como me parecia que seria, eu, ela e o piano, ela tocando a parte do piano e eu cantando a parte do soprano do coro sozinha, graças a Deus meu estudo desde que cheguei aqui deu certo e eu tava sabendo bem a música, combinamos dinâmica, articulação e fizemos algumas mudanças na partitura, depois ela me trouxe devolta para Padova de carro e inacreditávelmente pegamos trânsito e cheguei atrasada para o almoço no Marzolo (o verdadeiro!) com a Paty. 
Por conta deste ensaio nem me encontrei com o Robson (e peguei as coisinhas que minha mãe enviou por ele...) que já foi embora para passar as festas com a irmã e a namorada.
Almoçamos e eu voltei correndo pra casa para assistir ao vivo pela net o culto do Natalício de Meishu Sama, adoro modernidade, foi como se eu estivesse em carne e osso no culto com direito a dormir no Johrei e tudo..... rs.....
Depois do culto lá fomos nós ao supermercado (é nós vamos praticamente todo dia no supermercado) comprar algumas coisas pro Natal e perguntar se abriria no dia 24 para comprarmos um frango tonto para a ceia.....
Voltamos pra casa e depois de bem aliviada com o sucesso do ensaio estranho da manhã passei minha primeira noite sem estudar a Missa só vendo filme e seriado no notebool.... heheheh
Dia 24/12......

Até o dia 28 os bandejões estarão fechados e teremos que comer aqui em casa mesmo na hora do almoço, então na hora do almoço estreiamos nossa primeira comida comida feita aqui com os nossos dois fornellos, um super gnocchi fresco de 0,50 euros (inacreditávelmente barato!!!!!) com molho de tomate e um delicioso grana padano ralado por cima. Uma delícia!!!
Fomos então pro Giotto, nosso supermercado preferido (rs!) comprar nosso franguinho. O resto do dia foi realmente milhares de ligações de ambas as famílias no computador, era skype, msn, gtalk, todos os recursos foram usados e falei com todos os meus queridos, foi uma sensação maravilhosa, como se todos estivessem aqui comigo, acho que falei com mais pessoas queridas que falo normalmente no natal, a fofa da minha vó ligou pro meu número skype e não conseguia se conter de alegria de realmente estar falando comigo ligando pra um telefone de São Paulo (chorei..... até....). Realmente a modernidade é uma coisa fantástica, apaixonante!!!!! Nessas mil falações testei inclusive meu net com windowns xp (desculpem os fanáticos por linux, eu tb sou super fã mas o que eu podia fazer se minha chiavetta de interntet 3 g não funciona no linux?), operação muito complexa nesses últimos dias de instalar sem cd por uma pen drive e tudo mais, pena que o meu teclado ainda está todo errado porque o windowns que eu baixei é em espanhol (melhor do que o primeiro que era em chinês claro.... rs....).
Foi então a hora da nossa super ceia..... e nos demos conta que teríamos que usar a cozinha nojenta para esquentar o nosso frango..... ao descermos (fica no primeiro andar) nos sentimos totalmente donas do alojamento, mesmo os pouquíssimos gatos pingados que  também estão passando o natal aquii sairão para passar  a noite fora, estranho um lugar tão grande tão cazio deste jeito.....
Enquanto falávamos com nossas famílias ambas pensaram "acho que a cozinha nao é tão nojenta assim, foi só uma primeira má impressão, não devíamos te comprado o fornello, foi um exagero....." mas quando entramos na cozinha de frango na mão, nossa sensação foi o contrário: "graças a Deus que compramos o fornello, isso é inusável, será que dá pra comer o frango frio mesmo?"
Decidimos arriscar no microondas, que parecia o aparelho menos sujo do recinto... mesmo assim ao abrir a portinha do microondas tivemos que dar uma limpada nele porque o teto dele estava imundo e não podíamos correr o risco de cair no nosso frango.
Pra piorar o microondas não desligava mais.... demorou um tempão para conseguirmos fechar a portinha dele e ele não ligar instantâneamente.

Subimos pro meu quarto com o frango bem quentinho e no fornello eletrico fizemos um purê (já pronto) com azeitonas e grana padanno. 
E acompanhado do nosso pro seco de longneck fizemos uma maravilhosa ceia (ainda com participações constantes de familiares e amigos via skype), que bom que temos uma a outra por aqui, sozinha sozinha seria bem difícil mesmo.
Não tivemos troca de presentes porque trocamos presentes no domingo passado na Lush lá de Veneza.... rs... uma deu de presente pra outra o produto que a outra queria comprar.... hehehhe
Mesmo depois da meia-noite daqui, com bastante vinho e muito bem alimentada fiquei acordada até dar a meia-noite no Brasil e ainda falar com mais queridos. Só lá pelas 4 da manhã daqui que fui dormir sentindo todos bem próximos afinal "longe é um lugar que não existe" (graças a internet!!!hehehe).....
Dia 25 foi praticamente um dia como outro qualquer por aqui, acordei mega tarde (eu sei que preciso começar a me acostumar a acordar cedo, mas é difícil.... rs), fizemos nosso almoço ainda com o franguinho de ontem e o purê que não conseguimos comer tudo e de noite fomos na estação ferroviária encontrar o Flávio que chegava, fomos a pé porque o horário dos ônibus em pre-festivo e festivo é bem difícil de entender, e hj pelo jeito não teria ônibus nenhum. Encontramos com ele na porta da estação e fomos a pé até o hotel dele que fica bem perto dela. Depois fomos procurar algum lugar pra comer, mas depois de entrarmos em um estranho bar que reunia uma fauna realmente estranha, desde milicos bêbados com coreanos..... resolvemos voltar pra estação ferroviária e ir no bar de lá. Ficamos um bom tempo conversando e depois voltamos pra casa também a pé (esse percurso estação - casa de noitão tá ficando chavão já....). Antes de dormir já comecei a fazer a mala, afinal dia 26 vou pra Loano, que fica do outro lado da botinha......




sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O primeiro último dia

Uma semana se passou desde que eu cheguei aqui e não pude ir nenhuma vez no Conservatório ter aula, além de outros compromissos que eu tinha por aqui terem sido cancelados devido a neve.
Não pude ir no Conservatório porque a secretária do bienio (o mestrado se chama assim aqui) estava com gripe suína (tá forte o surto de gripe por aqui e não vejo noticiado em lugar nenhum, tem até cartazes espalhados pela cidade de vacina gratuita) e sem passar por ela eu não poderia frequentar as aulas.
Ansiosa para finalmente ir no conservatório na segunda dia 21/12 procurei pela internet sites informando dos ônibus para lá (afinal é intermunicipal!) e a previsão era ter que sair de casa as 8 horas da manhã (que crueldade comigo..... rs) mas antes ir deitar no domingo recebi um torpedo da Luisa me avisando que o Conservatório estaria fechado na segunda-feira devido a previsão de mais neve. 

Mesmo tendo uma boa e longa noite de sono fiquei frustrada de não ir no Conservatório, quero que as coisas comecem logo!!!!! Fomos então aos afazeres normais de todos os dias, uma passadinha no supemercado (afinal ter apenas um frigobar e nenhum armário de comida requer compras muito mais frequentes, além de ainda faltarem muitas coisinhas para casa que de repente me dou conta que falta e preciso comprar). Aproveitei a ida ao supermercado e comprei um babbo natale pra colocar na porta do meu quarto, uma decoração natalina sempre aumenta o meu conforto..... rs... 
Olhamos nos nossos papeizinhos do ESU para ver qual bandejão estaria aberto nesses dias de férias por aqui, e estava escrito "Marzolo", ficamos super felizes que além do mais o que estava aberto era aquele aqui perto de casa que tentamos ir e chegamos 2 minutos depois de fechar na semana passada. 
Mas claro que ser bichete em qualquer faculdade envolve muita micagem imagina ser bichete em outro país, os micos são altamente colecionáveis (relembrando meu incidente com o sal de frutas......). 
Hoje a neve estava diferente de sábado, estava fina e menos agressiva, com os floquinhos de neve perfeitinhos, pequenos e desenhados, pena que é algo que não se pode guardar de lembrança.....
Chegamos no bandejão e ele estava fechado, não acreditei, lemos que ele estaria aberto, comecei a ficar indignada com a bagunça aqui na Itália, como assim diz que vai estar aberto e está fechado? Vi que tinha uma pessoa lá dentro perto da janela e resolvi ir perguntar e a resposta  fez eu me sentir uma bichete total "Hoje só o Marzolo tá aberto!", (como assim esse não era o Marzolo??) quando me dei conta de que o mico já tinha acontecido perguntei pro moço onde ficava este tal Marzolo e pela explicação que ele deu haviamos passado na frente dele para chegar até aqui...... 
Fizemos o caminho inverso e fomos observando um grupo de jovens indo em direção a um prédio, seguimo-os e chegamos no verdadeiro Marzolo.
Graças a Deus com procedimento já conhecidos, pegar a fila escolher qual comida queríamos e dessa vez acho que aprendemos de vez como funciona o prato ridotto (que custa 1 euro a menos e que pro nosso bolso faz muita diferença) e também é tanta comida no prato completo que não conseguimos comer tudo mesmo (Primo: um prato fundo de massa + Secondo: normalmente uma carne, peixe, meio prato + Contorno: acompanhamento, batata, legumes, tb meio prato + pão + bebida a vontade + fruta de sobremesa).
De bandejinhas na mão nos sentamos e percebemos que não tínhamos o papelzinho verde para trocar por sobremesa depois (igual nos outros bandejões) voltei pro caixa e disse que o moço tinha esquecido de me dar o papel e ele me respondeu que era com a minha notinha que estava ali na minha bandeija.... os micos não acabam.......
Sentadas comendo começamos a olhar em volta.... parece que todos os italianos já tinham voltado para suas casas para passar as festas, sobramos nós, alguns franceses (parece estar bem complicado de ir pra lá por causa da neve), coreanos, pessoas do leste europeu e muitos africanos (daqueles retintos e altões, ouvi alguns falando português, temos que começar a prestar mais atenção no que falamos rs.......).
Simpaticamente além das frutas hoje tínhamos panetone como opção de sobremesa também.
A temperatura começou a subir e a previsão do tempo para de noite era de chuva, o que com certeza significava temperaturas positivas em breve, a volta pra casa já foi totalmente agradável. E com o fim da neve já foi remarcado o meu ensaio de sábado passado suspenso pela neve para quarta-feira.
Na terça de manhã segui as instruções da Luisa e liguei para o conservatório bem cedo para perguntar se hoje abriria e claro pra começar o dia com um bom mico ouvi de resposta "Claro, se você ligou pro conservatório e eu atendi é porque estamos abertos não?"....
Nos encapotamos e fomos (temperatura em torno de 0ºC) pro ponto de ônibus, fiquei bem feliz em perceber que a minha pesquisa de qual alojamento era mais perto do ponto para ira pra Adria tinha realmente funcionado (afinal enquanto eu fazia a pesquisa não tinha muita certeza se eu tinha entendido direito mesmo), compramos as passagens na edicola do lado do ponto e ficamos esperando, com uns 10 minutos de atraso entramos no ônibus. No site a previsão para a viagem era de 1h10min mas demorou 1h30min, acho que por causa da neve o ônibus ía mais devagar.
Olhando pela janela no caminho estranhamos em não ver pedaços desabitados entre as cidades, é praticamente uma grudada na outra (por isso demora mais também, porque são só 50km até Adria) e o ônibus passa por dentro de todas e aos poucos todos desceram e só sobramos nós duas. Fomos então pedir informações para o motorista de em qual ponto era melhor descermos para ir pro conservatório, mas a conclusão dele é que era melhor no final mesmo.
No relógio do ônibus quando descemos marcava 13:30hs e como a Luisa tinha dito que a aula dela começava as 13hs fomos bem rápidinho pelas 3 quadras, que separavam o ponto final do conservatório, chegamos lá e o portão tava fechado a cadeado, não era possível.... mas bem no cantinho vi umas pessoas entrando pela rua lateral e lá fomos nós.

Finalmente dentro do Conservatório (um prédio antigo bem bonito), pedimos informação na portaria e munidas de milhões de documentos fomos falar com a Sara preparadas pra perder algumas horas até conseguir resolver toda a burocracia e finalmente ter nossos planos de estudo (e horários de aulas) definidos. 
Mas não, a Sara só pegou os nossos diplomas reconhecidos pelo consulado e disse que todo o resto só em gennaio que agora não dava tempo de fazer nada, visto que hoje era o último dia de aula antes do recesso das festas, perguntei então da nossa carteirinha do conservatório (já pediram esse documento pra gente em outros lugares) e pro meu espanto a resposta foi que, ahhh isso só fica pronto lá pelo fim de gennaio.... meu Deus que lerdeza... pedi então uma declaração dizendo que somos alunas e coisa e tal só para ter um documento se voltarem a pedir.
Já que não perdemos nem 15 minutos na secretária voltamos para a portaria para perguntar em que sala estava a Luisa e pro nosso espanto "Ela ainda não chegou!", como assim? Ela estaria 1 hora atrasada? E todo mundo tava achando normal? Ligamos pra ela e ela disse totalmente calma que estava chegando..... ????????
Quando ela chegou subimos nós duas mais 3 alunos para a sala de aula, perguntei a hora, não resisti, e ela me respondeu 13:05h (sim, mais um mico, o relógio do ônibus estava uma hora adiantado).
Ficamos assistindo a aula dos outros alunos e no fim do dia (depois de eu ter saído da sala 2 vezes para socorrer o meu nariz que sangrava loucamente com a secura que fica dentro dos ambientes por causa da calefação), fui ter aula. Sem aquecimento, sem cantar a mais de 15 dias, sem ter idéia de onde estava a voz me inundei de alegria quando comecei a cantar e percebi que a voz tava lá onde deveria estar, sem dificuldades e tranquila. Não tinha idéia de quanto tava me fazendo falta cantar.......... que delíííííííííícia!!!! A minha sensação foi exatamente a sensação que o Toninho sempre me contava "Na Itália a gente acorda e a voz já tá no lugar, não precisa ficar procurando como aqui em São Paulo", uma sensação realmente muito boa, a Paty não queria cantar mas usei este argumento da sensação maravilhosa e ela fez aula e também sentiu esse prazer da voz estar simplesmente no lugar certo sem você fazer absolutamente nada.
Pegamos uma carona com a Luisa até a cidade de Rovigo onde pegamos o trem para Padova, chegamos na rodoviária e nos demos conta de que o trem do Robson deveria chegar em Padova em 1 hora e que não valia a pena voltar pra casa, então fomos no mercadinho da estação e compramos um kit de sobrevivência básico à espera: batatinha chips e vinho de caixinha tetrapark individual (hahaha). Esperamos por ele longas 3 horas e nada.... quando eu recebo  um torpedo dele dizendo que a previsão de chegada do trem era só as 23hs e que ele tava enviando um sms do celular de outro passageiro (a neve ainda estava bem ruim pros lados de Milão e os trens estavam sendo cancelados e vindo em baixissima velocidade devido ao congelamento dos trilhos).
Voltamos pra casa, mas como já eram 21hs não tinham mais ônibus e mais uma vez percorremos o caminho estação-casa mas agora com muito menos medo e bem mais quentinhas..... até tive condições de observar o caminho e descobrir que a rodoviária que eu deveria pegar o ônibus pra ir pro meu ensaio do dia seguinte era bem nesse caminho, perto de casa.......