Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O primeiro último dia

Uma semana se passou desde que eu cheguei aqui e não pude ir nenhuma vez no Conservatório ter aula, além de outros compromissos que eu tinha por aqui terem sido cancelados devido a neve.
Não pude ir no Conservatório porque a secretária do bienio (o mestrado se chama assim aqui) estava com gripe suína (tá forte o surto de gripe por aqui e não vejo noticiado em lugar nenhum, tem até cartazes espalhados pela cidade de vacina gratuita) e sem passar por ela eu não poderia frequentar as aulas.
Ansiosa para finalmente ir no conservatório na segunda dia 21/12 procurei pela internet sites informando dos ônibus para lá (afinal é intermunicipal!) e a previsão era ter que sair de casa as 8 horas da manhã (que crueldade comigo..... rs) mas antes ir deitar no domingo recebi um torpedo da Luisa me avisando que o Conservatório estaria fechado na segunda-feira devido a previsão de mais neve. 

Mesmo tendo uma boa e longa noite de sono fiquei frustrada de não ir no Conservatório, quero que as coisas comecem logo!!!!! Fomos então aos afazeres normais de todos os dias, uma passadinha no supemercado (afinal ter apenas um frigobar e nenhum armário de comida requer compras muito mais frequentes, além de ainda faltarem muitas coisinhas para casa que de repente me dou conta que falta e preciso comprar). Aproveitei a ida ao supermercado e comprei um babbo natale pra colocar na porta do meu quarto, uma decoração natalina sempre aumenta o meu conforto..... rs... 
Olhamos nos nossos papeizinhos do ESU para ver qual bandejão estaria aberto nesses dias de férias por aqui, e estava escrito "Marzolo", ficamos super felizes que além do mais o que estava aberto era aquele aqui perto de casa que tentamos ir e chegamos 2 minutos depois de fechar na semana passada. 
Mas claro que ser bichete em qualquer faculdade envolve muita micagem imagina ser bichete em outro país, os micos são altamente colecionáveis (relembrando meu incidente com o sal de frutas......). 
Hoje a neve estava diferente de sábado, estava fina e menos agressiva, com os floquinhos de neve perfeitinhos, pequenos e desenhados, pena que é algo que não se pode guardar de lembrança.....
Chegamos no bandejão e ele estava fechado, não acreditei, lemos que ele estaria aberto, comecei a ficar indignada com a bagunça aqui na Itália, como assim diz que vai estar aberto e está fechado? Vi que tinha uma pessoa lá dentro perto da janela e resolvi ir perguntar e a resposta  fez eu me sentir uma bichete total "Hoje só o Marzolo tá aberto!", (como assim esse não era o Marzolo??) quando me dei conta de que o mico já tinha acontecido perguntei pro moço onde ficava este tal Marzolo e pela explicação que ele deu haviamos passado na frente dele para chegar até aqui...... 
Fizemos o caminho inverso e fomos observando um grupo de jovens indo em direção a um prédio, seguimo-os e chegamos no verdadeiro Marzolo.
Graças a Deus com procedimento já conhecidos, pegar a fila escolher qual comida queríamos e dessa vez acho que aprendemos de vez como funciona o prato ridotto (que custa 1 euro a menos e que pro nosso bolso faz muita diferença) e também é tanta comida no prato completo que não conseguimos comer tudo mesmo (Primo: um prato fundo de massa + Secondo: normalmente uma carne, peixe, meio prato + Contorno: acompanhamento, batata, legumes, tb meio prato + pão + bebida a vontade + fruta de sobremesa).
De bandejinhas na mão nos sentamos e percebemos que não tínhamos o papelzinho verde para trocar por sobremesa depois (igual nos outros bandejões) voltei pro caixa e disse que o moço tinha esquecido de me dar o papel e ele me respondeu que era com a minha notinha que estava ali na minha bandeija.... os micos não acabam.......
Sentadas comendo começamos a olhar em volta.... parece que todos os italianos já tinham voltado para suas casas para passar as festas, sobramos nós, alguns franceses (parece estar bem complicado de ir pra lá por causa da neve), coreanos, pessoas do leste europeu e muitos africanos (daqueles retintos e altões, ouvi alguns falando português, temos que começar a prestar mais atenção no que falamos rs.......).
Simpaticamente além das frutas hoje tínhamos panetone como opção de sobremesa também.
A temperatura começou a subir e a previsão do tempo para de noite era de chuva, o que com certeza significava temperaturas positivas em breve, a volta pra casa já foi totalmente agradável. E com o fim da neve já foi remarcado o meu ensaio de sábado passado suspenso pela neve para quarta-feira.
Na terça de manhã segui as instruções da Luisa e liguei para o conservatório bem cedo para perguntar se hoje abriria e claro pra começar o dia com um bom mico ouvi de resposta "Claro, se você ligou pro conservatório e eu atendi é porque estamos abertos não?"....
Nos encapotamos e fomos (temperatura em torno de 0ºC) pro ponto de ônibus, fiquei bem feliz em perceber que a minha pesquisa de qual alojamento era mais perto do ponto para ira pra Adria tinha realmente funcionado (afinal enquanto eu fazia a pesquisa não tinha muita certeza se eu tinha entendido direito mesmo), compramos as passagens na edicola do lado do ponto e ficamos esperando, com uns 10 minutos de atraso entramos no ônibus. No site a previsão para a viagem era de 1h10min mas demorou 1h30min, acho que por causa da neve o ônibus ía mais devagar.
Olhando pela janela no caminho estranhamos em não ver pedaços desabitados entre as cidades, é praticamente uma grudada na outra (por isso demora mais também, porque são só 50km até Adria) e o ônibus passa por dentro de todas e aos poucos todos desceram e só sobramos nós duas. Fomos então pedir informações para o motorista de em qual ponto era melhor descermos para ir pro conservatório, mas a conclusão dele é que era melhor no final mesmo.
No relógio do ônibus quando descemos marcava 13:30hs e como a Luisa tinha dito que a aula dela começava as 13hs fomos bem rápidinho pelas 3 quadras, que separavam o ponto final do conservatório, chegamos lá e o portão tava fechado a cadeado, não era possível.... mas bem no cantinho vi umas pessoas entrando pela rua lateral e lá fomos nós.

Finalmente dentro do Conservatório (um prédio antigo bem bonito), pedimos informação na portaria e munidas de milhões de documentos fomos falar com a Sara preparadas pra perder algumas horas até conseguir resolver toda a burocracia e finalmente ter nossos planos de estudo (e horários de aulas) definidos. 
Mas não, a Sara só pegou os nossos diplomas reconhecidos pelo consulado e disse que todo o resto só em gennaio que agora não dava tempo de fazer nada, visto que hoje era o último dia de aula antes do recesso das festas, perguntei então da nossa carteirinha do conservatório (já pediram esse documento pra gente em outros lugares) e pro meu espanto a resposta foi que, ahhh isso só fica pronto lá pelo fim de gennaio.... meu Deus que lerdeza... pedi então uma declaração dizendo que somos alunas e coisa e tal só para ter um documento se voltarem a pedir.
Já que não perdemos nem 15 minutos na secretária voltamos para a portaria para perguntar em que sala estava a Luisa e pro nosso espanto "Ela ainda não chegou!", como assim? Ela estaria 1 hora atrasada? E todo mundo tava achando normal? Ligamos pra ela e ela disse totalmente calma que estava chegando..... ????????
Quando ela chegou subimos nós duas mais 3 alunos para a sala de aula, perguntei a hora, não resisti, e ela me respondeu 13:05h (sim, mais um mico, o relógio do ônibus estava uma hora adiantado).
Ficamos assistindo a aula dos outros alunos e no fim do dia (depois de eu ter saído da sala 2 vezes para socorrer o meu nariz que sangrava loucamente com a secura que fica dentro dos ambientes por causa da calefação), fui ter aula. Sem aquecimento, sem cantar a mais de 15 dias, sem ter idéia de onde estava a voz me inundei de alegria quando comecei a cantar e percebi que a voz tava lá onde deveria estar, sem dificuldades e tranquila. Não tinha idéia de quanto tava me fazendo falta cantar.......... que delíííííííííícia!!!! A minha sensação foi exatamente a sensação que o Toninho sempre me contava "Na Itália a gente acorda e a voz já tá no lugar, não precisa ficar procurando como aqui em São Paulo", uma sensação realmente muito boa, a Paty não queria cantar mas usei este argumento da sensação maravilhosa e ela fez aula e também sentiu esse prazer da voz estar simplesmente no lugar certo sem você fazer absolutamente nada.
Pegamos uma carona com a Luisa até a cidade de Rovigo onde pegamos o trem para Padova, chegamos na rodoviária e nos demos conta de que o trem do Robson deveria chegar em Padova em 1 hora e que não valia a pena voltar pra casa, então fomos no mercadinho da estação e compramos um kit de sobrevivência básico à espera: batatinha chips e vinho de caixinha tetrapark individual (hahaha). Esperamos por ele longas 3 horas e nada.... quando eu recebo  um torpedo dele dizendo que a previsão de chegada do trem era só as 23hs e que ele tava enviando um sms do celular de outro passageiro (a neve ainda estava bem ruim pros lados de Milão e os trens estavam sendo cancelados e vindo em baixissima velocidade devido ao congelamento dos trilhos).
Voltamos pra casa, mas como já eram 21hs não tinham mais ônibus e mais uma vez percorremos o caminho estação-casa mas agora com muito menos medo e bem mais quentinhas..... até tive condições de observar o caminho e descobrir que a rodoviária que eu deveria pegar o ônibus pra ir pro meu ensaio do dia seguinte era bem nesse caminho, perto de casa.......




2 comentários:

  1. Lindo blog, como sempre, desculpe não ter comentado antes, mas, incompetente como sou, só li agora.
    Que negócio é este da voz "estar lá" e em São Paulo, ou no Brasil, não estar????
    Não entendi, deve ser porque sou um leigo ignorante...
    quaquilões de beijos

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  2. Adorei o título!! fica bom até eventualmente para o título do livro do blog...

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